sexta-feira, 26 de novembro de 2010

o sorriso mais lindo do mundo.


Tive que apertar o passo. Já estava quase chegando. Escondi o livro embaixo do casaco, coloquei o capuz e cerrei os olhos tentando vencer as grossas gotas que insistiam em atingir meu rosto. Eu devia estar bizarra. Correr sem os braços pra se equilibrar devia ser visualmente uma bizarrice.
Estava na esquina de casa quando tropecei e caí. Por sorte ou instinto, livrei meu rosto de um corte e coloquei as mãos na frente. Asfalto arde. Antes que eu pudesse pensar num grande palavrão para aquela cena, fui surpreendida por um par de olhos caramelos fixos e pertíssimos dos meus. Você estava agachado e segurava meu livro com uma mão e me estendia a outra. Sua aparição e gentileza inesperadas me paralisaram. Agora sim, eu parecia mesmo bizarra. Por um instante, achei que reprimia um riso pela minha falta de coordenação e meu tombo. Enganei-me. Ao perceber meu choque, você afastou minha franja molhada do rosto.


Foi a primeira vez que eu vi seu sorriso.


Foi contagiante a ponto de me fazer esquecer do pior tombo da minha vida. Segurei sua mão ainda estendida e, mesmo sussurrando, sua voz foi como música aos meus ouvidos. “Cadarço desamarrado”. Olhei pra baixo e meu cadarço sujo e traidor parecia zombar de mim. Mordi os lábios e abaixei os olhos, realmente envergonhada por ser vítima de algo tão infantil. Você levantou meu queixo e, com um sorriso tão grande e lindo que apertava seus olhos, você disse “Relaxa, prometo que não conto pra ninguém”.

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