quinta-feira, 21 de outubro de 2010

mas eu só te quero bem


"Sorria pra mim", ele me pediu, e é claro que eu sabia porque.
Fingi me assustar com um olhar feroz do professor nos intimando a parar de conversar enquanto explicava a Era Vargas e fiz 'depois' com as mãos, baixando os olhos pro livro.
Não, eu não queria sorrir. Minhas feições são mais perigosas que minhas palavras, e eu não posso te magoar, não no fim. Você vê claramente que meus olhos não brilham como os seus quando nos olhamos, mas você não vê o que não quer, não aceita a verdade. Fora que, aquele lance de mandar mensagens à tinta me deixou desconfortável. Fiquei muitos instantes parada, com a piloto na mão pensando em mil e uma frases que não sejam "eu estou irremediavelmente feliz por ter você do meu lado" nem um "foi muito bom ter te conhecido". Eu não poderia ser tão fria com alguém como você, apesar de tudo.
Por favor, não me entenda mal. Você me quer, mas eu só te quero bem.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

estranho, pensei que fosse só comigo.


"Nunca imaginei que seria tão fácil pra você acreditar! Pensei que seria praticamente impossível.. Que você teria tanta certeza da verdade que eu teria de mentir por horas para pelo menos plantar a semente da dúvida em sua mente. Eu menti, e lamento muito.. Lamento porque magoei você, lamento por ter sido um esforço inútil. Lamento não tê-la protegido do que sou. Menti para salvá-la, e não deu certo. Perdoe-me.
Mas como pôde acreditar em mim? Depois de todos os milhares de vezes que eu disse que a amava, como pôde deixar que uma palavra anulasse sua fé em mim? Pude ver isso em seus olhos, que você sinceramente acreditou que eu não a queria mais. A ideia mais absurda e mais ridícula... Como se houvesse algum modo de eu existir sem precisar de você! Como posso explicar de modo que acredite em mim? Estou aqui e eu amo você. Sempre amei você e sempre amarei. Fiquei pensando em você, vendo seu rosto em minha mente, durante cada segundo que me ausentei. Quando lhe disse que não a queria, foi o tipo mais atroz da blasfêmia.
Era só uma questão de tempo.. e não muito.. para eu aparecer em sua janela e implorar que me recebesse de volta. Vai me deixar tentar explicar o que você significa pra mim?
Antes de você, Bella, minha vida era uma noite seu lua. Muito escura, mas havia estrelas.. Pontos de luz e razão... E depois você atravessou meu céu como um meteoro. De repente tudo estava em chamas; havia brilho, havia beleza. Quando você se foi, quando o meteoro caiu no horizonte, tudo ficou negro. Nada mudou, mas meus olhos ficaram cegos pela luz. Não pude mais ver as estrelas. E não havia mais razão para nada. Era como se meu coração não estivesse ali.. Como se eu estivesse oco. Como se eu tivesse deixado com você tudo o que havia aqui dentro."


(Edward Cullen)

afinal,


de quantas maneiras um coração pode ser destroçado e ainda continuar batendo?

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

so give me your forever


please, your forever.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

o despertar


Deitei na cama alguns minutos depois, resignada enquanto a dor finalmente resolvia aparecer.

Era paralisante, aquela sensação de que um buraco imenso tinha sido cavado em meu peito e que meus órgãos mais vitais tinham sido arrancados por ele, restando apenas sobras, cortes abertos que continuavam a latejar e a sangrar apesar de passar o tempo. Racionalmnte, eu sabia que meus pulmões ainda estavam intactos, e no entanto eu arfava e minha cabeça girava como se meus esforços não dessem em nada. Meu coração também devia estar batendo, mas eu não conseguia ouvir o som da minha pulsação nos ouvidos; minhas mãos pareciam azuis de frio. Eu me encolhi, abraçando as costelas pra não partir ao meio. Lutei para ter meu torpor, minha negação, mas isso me fugia.

E, no entanto, achei que podia sobreviver. Eu estava alerta, sentia dor, mas era administrável. Eu podia sobreviver a isso. Não pareca que a dor tivesse diminuído com o tempo; na verdade, eu é que ficara forte o bastante para suportá-la.

O que quer que tivesse acontecido naquela noite, tinha me despertado.

Pela primeira vez em muito tempo eu não sabia o que esperar da manhã.

I won't get by


Senti o chão de madeira liso sob meus joelhos, depois sob a palma das mãos e, em seguida, comprimido sob a pele do meu rosto. Eu esperava estar desmaiando, mas, para minha decepção, não perdi a consciência. As ondas de dor que me haviam assaltado pouco tempo antes se erguiam agora com força e inundaram minha cabeça, puxando-me pra baixo.

Não voltei à superfície.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

segura e lúcida

Este era o lugar errado para ir. Eu devia saber disso, mas para onde mais iria? A floresta era de um verde intenso e parecia demais com a cena do sonho da noite passada para que eu tivesse paz de espírito. Agora que não havia mais o som de meus passos ensopados, o silêncio era penetrante. As aves também estavam quietas, a frequência das gotas aumentava, então devia estar chovendo no alto. Agora que eu estava sentada, as samambaias eram mais altas que minha cabeça, e eu sabia que alguém podia andar pela trilha, a um metro de distância, e não me ver.
Aqui, nas árvores, era muito mais fácil acreditar nos absurdos que me constrangiam entre quatro paredes. Nada mudara nesta floresta há milhares de anos e todos os mitos e lendas de cem terras diferentes pareciam muito mais prováveis nesta névoa verde do que eu meu quarto claro.

Mas era tolice mórbida acolher essas ideias ridículas, era melhor eu voltar pra casa do John. Comecei a me perguntar se de fato seria capaz de sair dali. Segui o labirinto verde gotejante apressada, o capuz puxando meu rosto à medida que quase corria pelas árvores. Mas antes que o pânico fosse demasiado, comecei a vislumbrar espaços abertos pela teia de galhos. Eu já sabia o que fazer.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

distance


“Trancar o dedo numa porta dói. Bater com o queixo no chão dói. Torcer o tornozelo dói. Um tapa, um soco, um pontapé, doem. Dói bater a cabeça na quina da mesa, dói morder a língua, dói cólica, cárie e pedra no rim. Mas o que mais dói é a saudade. Saudade de um irmão que mora longe. Saudade de uma cachoeira da infância. Saudade do gosto de uma fruta que não se encontra mais. Saudade do pai que morreu, do amigo imaginário que nunca existiu. Saudade de uma cidade.Saudade da gente mesmo, que o tempo não perdoa. Doem essas saudades todas. Mas a saudade mais dolorida é a saudade de quem se ama. Saudade da pele, do cheiro, dos beijos. Saudade da presença, e até da ausência consentida.Você podia ficar na sala e ela no quarto, sem se verem, mas sabiam-se lá. Você podia ir para o dentista e ela para a faculdade, mas sabiam-se onde. Você podia ficar o dia sem vê-la, ela o dia sem vê-lo, mas sabiam-se amanhã. Contudo, quando o amor de um acaba, ou torna-se menor, ao outro sobra uma saudade que ninguém sabe como deter.Saudade é basicamente não saber. Não saber mais se ela continua fungando num ambiente mais frio. Não saber se ele continua sem fazer a barba por causa daquela alergia. Não saber se ela ainda usa aquela saia. Não saber se ele foi na consulta com o dermatologista como prometeu. Não saber se ela tem comido bem por causa daquela mania de estar sempre ocupada, se ele tem assistido as aulas de inglês, se aprendeu a entrar na Internet e encontrar a página do Diário Oficial, se ela aprendeu a estacionar entre dois carros, se ele continua preferindo Malzebier, se ela continua preferindo suco, se ele continua sorrindo com aqueles olhinhos apertados, se ela continua dançando daquele jeitinho enlouquecedor, se ele continua cantando tão bem, se ela continua detestando o McDonald's, se ele continua amando, se ela continua a chorar até nas comédias.Saudade é não saber mesmo! Não saber o que fazer com os dias que ficaram mais compridos, não saber como encontrar tarefas que lhe cessem o pensamento, não saber como frear as lágrimas diante de uma música, não saber como vencer a dor de um silêncio que nada preenche. Saudade é não querer saber se ela está com outro, e ao mesmo tempo querer. É não saber se ele está feliz, e ao mesmo tempo perguntar a todos os amigos por isso... É não querer saber se ele está mais magro, se ela está mais bela. Saudade é nunca mais saber de quem se ama, e ainda assim doer. Saudade é isso que senti enquanto estive escrevendo o que você, provavelmente, está sentindo agora depois que acabou de ler...”



(Miguel Falabella)

o Adivinho


O serviço dos dias é apenas este:
trazer dias, levar dias.




O Tempo existe para apagar o Tempo.

de Vila Longe


Eis a nossa sina:
esquecer pra ter passado,
mentir pra ter destino.