sexta-feira, 30 de julho de 2010

eu sei, mas não devia


Eu sei que a gente se acostuma. Mas não devia.
A gente se acostuma a morar em apartamentos de fundos e a não ter outra vista que não as janelas ao redor. E, porque não tem vista, logo se acostuma a não olhar para fora. E, porque não olha para fora, logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas. E, porque não abre as cortinas, logo se acostuma a acender mais cedo a luz. E, à medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão.


Marina Colasanti

eu sei, mas não devia


A gente se acostuma a acordar de manhã sobressaltado porque está na hora. A tomar o café correndo porque está atrasado. A ler o jornal no ônibus porque não pode perder o tempo da viagem. A comer sanduíche porque não dá para almoçar. A sair do trabalho porque já é noite. A cochilar no ônibus porque está cansado. A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia.


Marina Colasanti

eu sei, mas não devia


A gente se acostuma a abrir o jornal e a ler sobre a guerra. E, aceitando a guerra, aceita os mortos e que haja números para os mortos. E, aceitando os números, aceita não acreditar nas negociações de paz. E, não acreditando nas negociações de paz, aceita ler todo dia da guerra, dos números, da longa duração.


Marina Colasanti

eu sei, mas não devia


A gente se acostuma a esperar o dia inteiro e ouvir no telefone: hoje não posso ir. A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso de volta. A ser ignorado quando precisava tanto ser visto.


Marina Colasanti

eu sei, mas não devia


A gente se acostuma a pagar por tudo o que deseja e o de que necessita. E a lutar para ganhar o dinheiro com que pagar. E a ganhar menos do que precisa. E a fazer fila para pagar. E a pagar mais do que as coisas valem. E a saber que cada vez pagar mais. E a procurar mais trabalho, para ganhar mais dinheiro, para ter com que pagar nas filas em que se cobra.


Marina Colasanti

eu sei, mas não devia


A gente se acostuma a andar na rua e ver cartazes. A abrir as revistas e ver anúncios. A ligar a televisão e assistir a comerciais. A ir ao cinema e engolir publicidade. A ser instigado, conduzido, desnorteado, lançado na infindável catarata dos produtos.



Marina Colasanti

eu sei, mas não devia


A gente se acostuma à poluição. Às salas fechadas de ar condicionado e cheiro de cigarro. À luz artificial de ligeiro tremor. Ao choque que os olhos levam na luz natural. Às bactérias da água potável. À contaminação da água do mar. À lenta morte dos rios. Se acostuma a não ouvir passarinho, a não ter galo de madrugada, a temer a hidrofobia dos cães, a não colher fruta no pé, a não ter sequer uma planta.


Marina Colasanti

eu sei, mas não devia


A gente se acostuma a coisas demais, para não sofrer. Em doses pequenas, tentando não perceber, vai afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta acolá. Se o cinema está cheio, a gente senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço. Se a praia está contaminada, a gente molha só os pés e sua no resto do corpo. Se o trabalho está duro, a gente se consola pensando no fim de semana. E se no fim de semana não há muito o que fazer a gente vai dormir cedo e ainda fica satisfeito porque tem sempre sono atrasado.


Marina Colasanti

eu sei, mas não devia


A gente se acostuma para não se ralar na aspereza, para preservar a pele. Se acostuma para evitar feridas, sangramentos, para esquivar-se de faca e baioneta, para poupar o peito. A gente se acostuma para poupar a vida. Que aos poucos se gasta, e que, gasta de tanto acostumar, se perde de si mesma.


Marina Colasanti

quarta-feira, 28 de julho de 2010

boa vizinhança


Tenho mania de ler na varanda. Não há nada de incomum nisso, mas parece que bairro todo PARA pra fazer palhaçada quando quero me concentrar. Não que eu não goste de rir do vexame alheio, eu só queria ler em paz.
Noite passada o Bradesco marcava 15ºC e quase meia noite quando me enrolei no edredom e fui.
Em menos de meia hora, o primeiro episódio..
Um guri estava passando entre os carros e bateu de mão aberta num sedan, provocando o maior eco. A menina que estava com ele só sabia rir, e deu gritinhos histéricos quando, ao passar pela porta do hall que ele segurava pra ela, ele tascou-lhe um tampa na bunda. Ambos trançavam as pernas, e ele mal se mantinha em pé.

Depois, foi a vez de um guincho trazer um carro. Pensa naquela sirene mais lenta mas não menos irritante que a de uma viatura? Então.
Marquei meu livro e esperei o momento daquele guincho sumir, as pessoas tirarem suas cabeças da janela e o silêncio voltar a reinar.

Num curto momento de paz, outro acontecimento. Um zumbido..que foi aumentando.. Até que.. LADY GAGA. O cara do fumódromo do 1º andar saiu na varanda de madrugada pra.. ouvir Lady Gaga?
Claro que eu achei normal um cara de quase 2 metros de altura ouvir Paparazzi.
Assim que a música acabou ele entrou, eu acabei fazendo o mesmo ao ouvir um casal lá de cima esgotando a cota de palavrões numa DR.
Decidi ler no quarto, mesmo, onde eu sei que no máximo, meu celular toca.

terça-feira, 27 de julho de 2010

chamar o guincho?


Acordei pensando no meu futuro. Pensando em como as coisas ficarão quando eu ser independente. Em entrar no mercado e colocar no carrinho o que quiser sem ter que dar satisfação, comer unha e cuspir no chão (nojenta) e colocar os pés no sofá. Enfim, o tipo de coisa que eu ainda não posso fazer.

Nisso tudo, me imaginei dirigindo. Eu vou ter tanto medo de acabar a gasolina que olharei constantemente o marcador. Vou andar a 40km/h e olhar sempre pro retrovisor pra não matar motoqueiros. Vou buzinar pra cada veado que ousar me fechar ligar o parabrisa mesmo com uma garoa.


Mas um dia, meu pneu pode, de repente.. furar.
Fico imaginando que eu faria numa situação dessas.

Pararia no acostamento? Chamaria o guincho? Me aventuraria a usar o macaco e correr o risco do carro cair em cima de mim?
Eu não sei. E se meu celular, mesmo em minha independência, estiver sem crédito? Como eu vou ligar pra alguém vir ajudar?
Eu não vou me dar ao luxo de chamar alguém, senão esse papo de independência mia, muito menos pra arrumar o pneu do MEU carro, que EU furei. Então eu decidi que, a primeira coisa que eu farei quando comprar um carro, vai ser fazer um supercurso de 'como trocar seu pneu furado'. Independência, né?


Isso realmente me fará independente.

quinta-feira, 22 de julho de 2010

promessas


A gente pode consertar isso, não vá embora. Cada passo que você dá fica mais difícil respirar. E quanto aos planos que você deixou pra trás?A pequena casa amarela perto da linha férrea, aquela que escolhemos juntos.. até pedimos que abaixassem um pouco o preço, para que fosse possível pagarmos aquela viagem que planejávamos fazer no meio do ano. E quanto a promessa que você fez de ficar comigo até o dia de sua morte? Disse que nunca iria embora.

A Claire esteve aqui no último domingo, tentar arrancar um sorriso do meu rosto. Espero que você não peça pra sua irmã fazer isso de novo, James. Ela se sentiu tão mal quanto eu. Percebi que ela olhava disfarçadamente pros porta-retratos vazios sobre a estante. Você arrancou tudo de mim, fez o serviço completo. "Será como se eu nunca tivesse existido na sua vida", como você prometera.
E quanto as promessas que você fez de ficar comigo até o dia de sua morte?

terça-feira, 20 de julho de 2010

menos eu.


Ah, James, eu deveria, não é mesmo? Eu sei que é tarde demais pra essas minhas considerações, mas só hoje eu sinto que eu deveria ter te provado, te perseguido, ter dito, nem que fosse pela última vez, que você é a única coisa que importa pra mim. Nem que isso me custasse a vida. Eu deveria ter dito tudo o que eu guardei dentro de mim, e talvez eu poderia ter feito você acreditar.. que o que tínhamos era tudo que nós sempre precisamos.

Naquela caixa embaixo da cama está tudo aquilo que, um dia, pertenceu a nós, mas que hoje faz parte do seu passado tanto quanto faz parte de tudo o que foi realmente bom na minha vida.

Eu durmo com aquela blusa que você me deu no meu aniversário. Eu fico me lembrando de como era bom, quando você me provocava na dose certa nos meus dias de mal humor. E daquela vez, que eu acordei com aquela maquiagem borrada, de ressaca e com o penteado amassado, e você disse, mesmo assim, que eu era linda como uma manhã de Natal. Todo mundo sempre soube que você era tudo o que eu precisava, menos eu. Mas se você está feliz, espero superar também, de alguma forma.

sempre ali pra estender a mão


É compartilhar a vida com aqueles que amas, por mais diferentes que eles sejam. É um amor que não morre. É o sentimento que temos por alguém cuja presença nos provoca algum aconchego e cuja conversa e modo de ser nos encantam.

No início, seu o nome tanto faz, mas de repente sua companhia passa a ser extremamente importante. Nosso egoísmo cai, nossa vida muda. O telefone a gente decora, pois é a primeira coisa que precisamos depois de chegar em casa: pra contar pra ele tudo o que aconteceu e, quem sabe, pedir conselhos mesmo que não precisemos deles, só por segurança.

Amizade é mais do que uma palavra.

Uma amizade verdadeira não se pode estender a muitos porque exige experiência, intimidade e confiança. Pois requer convivência e familiaridade e isso não é possível com muitos. Aristóteles fala: “Quem tem familiaridade com muitos não é amigo de ninguém!”. Ou seja, a amizade profunda é possível somente entre poucas pessoas.


Uma característica essencial da amizade é a reciprocidade: amar e ser amado.


Seria pecado escrever aqui alguns nomes importantes porque sempre faltaria mais um. E eu espero tê-los comigo, ate o último dia da minha vida. Quem está comigo e me conhece, sabe o seu valor, porque eu não deixo de dizer. A amizade é tudo.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

sim, me acorde.


Descobri uma coisa.
Eu sou sonâmbula, colega.
Na madrugada de hoje acordei do lado contrário no qual costumo dormir. Tipo, com os pés no travesseiro e a cabeça no 'pé da cama', manja?
De fato, isso já havia acontecido comigo há uns 10 anos atrás, mas achei que era palhaçada: minha mãe disse que eu fui fazer mamadeira pra minha irmã às três da madrugada. Virei piada por uma semana aqui em casa.
Porém, hoje 4am abri meus olhos e me vi deitada diferente. Obviamente, dei uma de James Bond e fui perguntar o que havia acontecido, até porque a porta do quarto estava aberta (só consigo dormir com ela completamente fechada) e alguém poderia te entrado e me zuado.
Acharam bizarro, é lógico. Ninguém havia entrado lá, mas me ouviram levantar e ir à cozinha.
Fiquei chocada com isso. Eu sou sonâmbula. Eu sou sonâmbula!

E se um dia eu me matar? Sei lá, confundir minha cabeça com um presunto e tchanan, morri-me?
Corri pesquisar sobre o assunto na internet. A primeira palavra pra definir um sonâmbulo já é assustadora: é um TRANSTORNO.Sou transtornada. Ok.
"A sua causa é desconhecida e não há tratamento eficaz."
Agora preciso seriamente conversar com todos aqui de casa e dizer para me acordarem, sim, caso eu esteja andando por aí de olhos fechados. “Você pode assustar um sonâmbulo, e ele pode ficar muito desorientado e ter reações violentas ou confusas, mas nunca ouvi falar de nenhum caso documentado de alguém que tenha morrido ao ser despertado”, diz Michael Salemi do Centro Califórnia para Distúrbios do Sono. O perigo do sonambulismo está mais ligado àquilo que o sonâmbulo pode encontrar ao sair por aí em seus devaneios noturnos.

Fico pensando se um uma noite, em meio a esse transtorno, eu decidir tomar banho e me afogar com o chuveiro. Culpem minha mãe.

terça-feira, 13 de julho de 2010

"pais apanham da vida..


..e filhos apanham dos pais".

Minha atenção foi desviada pra um problema constante na nossa sociedade. A violência está desenvolvida de diversas formas na nossa sociedade e são muitos os fatores que contribuem para seu estabelecimento. O caso Eliza Samudio e Bruno está aí e, contra fatos não há argumentos. Homem batendo em mulher, homem batendo em homem e.. pais batendo em filhos. Acho que está última é ainda pior pois trata-se de crianças.
Vítimas de maus-tratos, elas sofrem muitos prejuízos no seu desenvolvimento. No entanto continuamos tendo a certeza da possibilidade de mudança e de superação dessa realidade.

"Crianças que apanham dos pais são adultos mais bem-secedidos, diz estudo". Isso me deixou simplesmente chocada. Depois dessa publicação, vai ter gente dando croc na cabeça de guris só para ter certeza que eles se darão bem na vida.
Não existe forma mais antiquada de educação do que esta, além de poder trazer danos e problemas mentais nos filhos.

A boa educação não está limitada na conversa e na psicologia infantil, absolutamente. Repreender e castigar materialmente vale. O que falta mesmo são pais de verdade, que foram adultos o suficiente para fazer e não para arcar com as responsabilidades perante a sociedade neste papel de pai/mãe. São poucos que conseguem. Acredito na educação rígida onde severidade nao é sinônimo de violência.

segunda-feira, 12 de julho de 2010

um ponto, não. uma vírgula.


Fiz e refiz essa postagem várias vezes, mas não é à toa que a palavra SAUDADE não tem uma definição exata.
É só correr rumo à tradução pra língua inglesa.
O 'google tradutor' vai dizer que saudade se traduz por MISSING.
Até aí, beleza. Mas ao fazer o contrário, eu vi que MISSING passou para português como PERDIDO.

Não é sempre que algo perdido me dá saudade, e nem que o objeto ou pessoa que me dá saudade está perdido.

Quando a saudade não cabe no peito, transborda nos olhos. Sentir a saudade prova que valeu a pena, que trouxe felicidade e que tudo poderia durar pra sempre. E durará, dentro da memória. Nela está o cheiro da garagem do meu pai, que me dava vontade de ficar lá o dia todo de tão excêntrico que era. Está também a minha inocência, que por muitas vezes me faz falta. Está a ansiedade ao esperar a bateria do meu carrinho de controle remoto ficar cheia pra eu atropelar as revistas espalhadas no chão da sala. Saudade daquela prancha de isopor que arrancou um sorriso do rosto do meu pai quando consegui chegar até a beira do mar depois de pegar minha primeira super onda sem escorregar..

Ah, eu tenho muita coisa dentro da memória. Não há como odiar a saudade. Felicidade existe, é irmã dessa saudade.

sábado, 3 de julho de 2010

nada como um dia após o outro


Quer saber? Eu quero mesmo é que se dane todo esse povo despeitado e arrogante que está “feliz” com o resultado do Brasil na Copa. Brasileiros assim sobra e têm que se ferrar mesmo!
Aham, sou do contra!
Gosto do Dunga, fiquei com dó ao ver Júlio César aos prantos e acho meio injusto esse povo que nem sabe porra nenhuma de futebol ficar repetindo tudo o que escuta dos 80% de otários que a Globo colocou pra comentar.
Ninguém ainda percebeu que a Globo está manipulando todos contra a Seleção Brasileira porque Dunga não cedeu exclusividade à essa merda de emissora? Ok, Band é uma bosta e aquele Neto é um.. viado. Fora a Renata Fan que é melhor eu nem comentar pra não vomitar. Mas assim, esses merdinhas microfonados não sabem o que é dirigir uma Seleção Brasileira, alguns nunca sentiram o peso da camisa verde e amarela (já disse, ALGUNS) e ficam criticando Dunga.
Realmente, ele deveria ter convocado um Ganso ou um Hernanes. Talvez isso tenha feito uma baita diferença, mesmo. Mas já foi.
Porém não foi só reservas e apoio que faltou.
Faltou respeito. Debocharam de Dunga e de jogadores que dias atrás foram protagonistas de alegrias brasileiras. Ele fez um belo trabalho (numerosas vitórias- jogar bonito não ganha jogo) e não é novidade pra ninguém que jogador não gosta de concentração. É claro que é ruim, é confinamento! Adriano não merecia ir MESMO!
Mas é isso aí, vou deixar esses estúpidos falarem frases decoradas como “Eu já sabia”, “Eu avisei” e “O Dunga é burro” porque desse tipo de patriotas, eu estou é saturada. Afinal, ontem foi o Brasil, amanhã pode ser outro. Hoje foi a vez dos nossos hermanos:


CHUUUUPA ARGENTINA, CHUUUPA DIEGO MARADONA! *-*
Não te vimos pelado, mas te vimos tomar de quatro. E aí é humilhação, minha gente!

quinta-feira, 1 de julho de 2010

chama-se vingança

Não sei você, mas eu odeio quando estou dormindo deliciosamente e de repente sou arrancado desse estado periódico e diário. Aconteceu isso nesta manhã.
Meu pai tinha saído com a minha irmã e, como sempre, eu estava dormindo profundamente. Sonhava com uma viagem, passáros e fadas.. coisas que não vêm ao caso.
De repente, meu telefone chama.. "Tô sonhando, tô sonhando, não acorde!"
Insistentemente.. "Alguém o atenderá, por favor, não acorde!"
E não parava: "Puts, se eu levantar e ele parar, me mato. Mas vai que é importante, vai que alguém morreu!"

Levantei correndo, com medo de demorar e perder a chamada.
"Alô? Ah, ela não está. Tá bom, de nada. Tchau."
Isso me deu no sangue. Meu coração está com batedeira até agora, por causa de uma merda de ligação das amiguinhas da minha irmã, que não têm o que fazer e ficam jogando conversa pro ar. Mas tudo bem, eu já tive onze anos. Mas eu não tinha uma irmã que queria dormir e não gostava de ser acordada. Se eu tivesse, eu respeitaria, é claro. Agora que a dondoca chegou, repassei o recado errado só de raiva. Disse que era outra guria, e ela ligou pra amiga errada. Ri histerica e internamente.
O legal foi vê-la envergonhada se desculpando pelo mal entendido e me chamando de burra. Burra, aham.. MUAHAHAHAHAHAHA
Mostrei aquele V nos dedos. V de vingança.